Informamos que já se encontra divulgada a publicação final do VI Prémio de Poesia em Rede - Poemas de Intervenção.
Os poemas concorrentes podem ser vistos aqui e na Publicação Final.
Manifesto
À Pátria podre
Sentado o Homem pensa.
O Tempo, lento, passa.
Nas pressas que o mundo traça
Refugia-se do abismo sem licença.
Revolta por dentro dói, intensa,
É parasita da alma, ameaça.
Luta interna que nos enlaça
A este sobreviver de sentença.
O Homem sentado que se levante
Concretize seu pensar como outrora.
Pensamento inusitado, mirabolante,
Que molda o intento, como espora,
Com coragem inata de viajante
Luta avante, sem mais demora!
Verónica Simão
A miséria que ninguém quer ver.
Como podemos encontrar a felicidade,
Quando mesmo ao nosso lado está a miséria.
Dizemos que temos pena, quando os vemos na televisão,
Aparece uma lágrima, que é bom cristão
Mas não passa de cinismo disfarçado de pena.
Vemos um pobre, damos uma esmolinha
“mas que pobre alminha…”
Chega para não morrer de fome
mas pouco come,
O pobre da esmola.
E sentimo-nos bem, com a boa acção,
Mas não passa de exibicionismo,
Apenas cinismo.
Porque ele está na noite ao relento
Enquanto nós, muito bem com o aquecimento.
Chegam notícias de violação,
De tanta maldade e de exploração,
“ai que pobres criancinhas.”
Mas ninguém quer saber daquelas vidinhas,
Porque é só para os entreter
Essa miséria que ninguém quer ver
Filipe Magalhães Alves
POETA DO MAR ONDULANTE
Poeta!... que escreveste a maresia
Nas ondas da vida…
Escutando o mar que bramia
Em ondas perfumadas de poesia
Nas estrelas iluminadas
Qual fanal radiante de luz
Guiando o timoneiro…
Enamorado das marés…
Conduziste a Barca do Amor
Percorrendo o vasto oceano
Dum coração humano prisioneiro
Que te fez marinheiro
Na sua vastidão…
Coração batendo no peito
Qual onda que bate em amor perfeito!
Com anseios de liberdade
Ir além do horizonte visual
Que a vista alcança
Num mar de imensidão!
Ah! Coração! Coração!
Que cantas nessa batida
Os poemas da Vida!
Na pauta musical
Que um dia ao sabor das marés
Nos vem sempre lembrar que és
Nesse vai-vem constante da maresia
Na vida de cada dia…
O Poeta Imortal!
Longos sorvos de tempo (PT – BR)
Bebo um pouco do instante
Até que dure o momento
Não obstante os traços
De um mundo lagarta
Que para pior metamorfoseia-se
Posso agir, de qual maneira?
Se engulo rápido o tempo
Sem pensar no ato – se é belo ou feio?
Posso agir, de qual maneira?
Tenho ideia
Fecharei os lábios para a conveniência
Agora só bebo meritório instante
E dou mais flores para o mundo lagarta
Quero ver se vira borboleta.
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Poema de João Gonçalves
País: Brasil
Desgraça, grande malvada!
Óh desgraça, grande malvada
de beleza e ternura vazia
Óh desgraça tão pura e enraízada
no coração da maioria.
Ouve a minha voz, óh desgraça
que ela tem dor e tormento
vai-te embora com a tua graça
vai-te, que te carregue o vento.
Mas tu não vais e bates à porta
com os teus versos carregados
deixas sem força, quase morta
uma nação de desterrados.
Isabel Santos
A voz da sociedade
A sociedade existe abafada,
A sociedade permanece calada.
Nada se consegue fazer ouvir,
Nada se faz para o bem surgir.
Vemos seres despejados nas ruas,
Vemos na multidão um olhar de amarguras,
Amarguras de um poder mal usado,
Amarguras de um país castigado.
Perante esta imunda desordem,
Temos de dar as mãos aos que colhem,
Aos jovens que colhem justiça,
Aos desempregados que colhem oportunidades,
A todos nós que abafaremos quaisquer maldades.
Lutemos para que a nossa voz não se cale,
Lutemos para que sobre direitos a nossa voz fale.
A voz da multidão não se pode abafar,
Pois um melhor Portugal todos vão aclamar!
Susana Ferreira
Poema: O Segredo das Palavras.
Sou guerreiro sem espada
No campo de batalha abandonado
Onde o pássaro canta a liberdade
De um descanso há tanto esperado.
Ergo-me exausto e confuso
Desorientado pela névoa que me abraça
A um passo desse titânico muro
Que toda a minha alma trespassa.
Mas com garra enfrento e luto
Para derrubar este amargo fruto
Que em mim repousa e mora.
E como campainha que me desperta
Cai então miudinha a chuva
Agora sim, está na hora!
Autor: Eurico Manuel Soares Pereira
Nada me dizes
Espero um sinal
Um momento
Uma resposta
Não devo valer tal acto
De facto não o mereço
As musas são deusas
E as deusas estão distantes
Os grandes heróis as afagam
Mas não as tocam
Não as mudam
Os grandes poetas com elas se deitam
Sonhando embriagados
Os grandes músicos fazem-nas dançar
Mas não as abraçam
Os grandes pintores as pintam
Mas raramente as avistam
Eu sou pequeno demais
Nem te conheço
Nem sei qual das musas és tu
Aguardo o sonho
De acordar contigo
Licínio Neto
FORCA POÉTICA
Poesia de intervenção
Tem de ser interventiva,
A pena tem de ser bastão
Para ser punitiva!
Poesia a intervir,
A castigar, certamente
Não será para ouvir
Que quem manda é inocente.
Se quem manda é culpado
E o mandado inocente
Alguém tem de ser castigado:
Corruptos e incompetentes
Na poesia são enforcados
Por povos, pobres indigentes!
…………….XXXXXXX………….
Autor: Carrasco
Portugal
Localizado no belo extremo da Europa
Rodeado de mar e de rios navegáveis
Onde impera o fado e este grito de revolta
Por culpa destas condições tão instáveis
Por aqui o futuro tornou-se incerto
Não revelando o que o amanhã nos trará
Vou assistindo a tudo tão de perto
Ao abismo a que esta política nos levará
Até estudar é um dilema
Ficando os alunos sem saber como pensar
Sem saber se vale a pena
Lutar para um melhor futuro alcançar
Quem não tem dinheiro
Não estuda porque há necessidade
Ficando por concretizar o sonho verdadeiro
Pois ninguém vive do ar estando numa Universidade
Já nem a cultura lhes importa
Tal é a mentalidade capitalista
Agora que temos o FMI a tocar à porta
Mentalidade que nunca se revelou realista
Perdeu-se também o sentido de uma revolução
Estamos todos apáticos e sem vontade
A riqueza nunca se revelou tanto uma ilusão
Todos os sonhos estão esquecidos por necessidade.
Globalização fraterna
Eu acredito em ti.
A sério, senão não te apelava tanto.
Aceitas-me?
Sim, eu sei que sou diferente.
Tenho genes diferentes,
Experiências diferentes,
Um pensar diferente
E o meu espírito é único.
Mas tu és meu semelhante…
Provimos do mesmo éter que nos bafejou com a vida
E partilhamos uma missão comum:
A humanidade!
Por isso acredito em ti.
Não me magoes por não ser como tu desejas
Não me recrimines nem segregues,
Em prol de valores que não são os teus
Mas os de um outro alguém que tos impôs.
Abraça a diversidade de existências
Deixa-as coexistir numa colorida harmonia.
A maioria não é a totalidade
Sou como tu, mas não busco a igualdade.
Dá-me do teu espaço que necessito para ser eu,
Não me obrigues a seguir um caminho que não é o meu
Por muito que esse trilho esteja já decalcado
O meu destino não foi pelos outros traçado.
Para crescer em liberdade preciso de ti
No teu braço deixa-me ser pelo que seja que nasci.
E tu…acredita em mim.
A sério, senão não te apelava tanto.
Arine Malheiro
18.02, tarde.
Acordas de madrugada
Para ver o teu sonho partir.
Gritas, com a voz soterrada,
Que o mundo acabou de ruir.
Rompem, lá fora, nas ruas,
Almas que choram de dor.
Perdidas, pálidas, nuas,
Tremem com falta de amor.
E as palavras desertas
Chovem como facas no rosto
Enquanto consciências despertas
Querem o regime deposto.
Ficas escondida no escuro,
Reclamas a solidão.
Tens à tua frente o futuro,
O destino da Terra na mão.
Isabel Teles de Menezes
livro de reclamações
não, não é uma ilusão.
é um pequeno poema
d’alguma intervenção,
escrito sob um lema:
“povo que alto grita
é gente aflita a lutar”.
diz pois o pescador
em alto e bom som
tolhido por essa dor
que desvanece o dom:
“da faina vem o pão
e uma mão para curar”.
exclama o agricultor
com o suor a escorrer
e a face com o rubor
q’a manhã viu nascer:
“a minha guerra
é a terra por arar”.
… e a uma só voz,
com o que temos de bom,
reivindicamos nós
sempre dentro do tom:
“somos gente tenaz
incapaz de se vergar”.
dm
NO MEU RIO IMAGINÁRIO
No caudal no meu rio do canal
Deslizam tantas águas cristalinas
Na corrente impetuosa, torrencial
Cintilando para o mar pela campinas
Há nas vegetações dos canaviais
Os sons das rãs, sapos, melros a cantar
E mesmo as andorinhas nos beirais
Acompanham os pardais a chilrear
Vejo o sol a romper ao horizonte
No cimo das cordilheiras da serra
Já cheira a rosmaninho lá no monte
Em baixo o mar azul, espreita a terra
Mas eis meu contraste, diversidade
No canal da minha terra não há rio
Já secou o ribeirinho de saudade
A onde minha mãe lavava ao frio
As fontes do canal! Talvez sem águas?
Na nostálgica saudade sinto mágoas
Ali naquele imenso ermo solitário
No sonho de quimeras e esplendores
Desliza o meu mundo de primores
Na corrente do meu rio imaginário
Aulnay, Março2012
Tubarões
Se eu fosse o outro peixe desmedido
Que Aquele Homem pregava no Sermão,
Seria não servente mas servido
Por quem me atraiçoa, usurpa o pão.
Ai se eu não fosse o peixe comedido
Que trabalha sol a sol, servidão,
Arrancava-te o dito, o prometido,
Noutros tempos…aqueles de eleição!
É nesta ira, na raiva que me invade,
Que eu desanimo e quase me enfraqueço,
Perco o corpo, o meu suor e a vontade
De dar a tubarões usurpadores
O pão que me pertence, que mereço,
E que fica na mão desses senhores.
Manuela Ferreira
Chegou a liberdade, chegou abril
já se calou o das águas mil
Chegou abril, o da revolução
Acabou por fim a exploração
Chegou o maio em flor
O maio maior, o do amor
Maio das lutas, maio do povo
era a alegria que voltava de novo.
Chegou Março e o Setembro
Nas ruas, bandeiras ao ar
era tempo do povo lutar
Chegou negro o novembro
falou solene do velho abril
falou do abril das águas mil………
ZeRu+
Da lusa gente (ou fazer acontecer)
Que mar acossado me fez marinheiro,
Se, zarpei de mim para me achar naufrago,
Na ponta do meu desassossego?
A que ilha ou chão de futuro aportei,
Se, me perdi nos abismos da minha solidão,
A gritar a revolta do meu descontentamento?
Onde arroteei planuras e construi auroras,
Quem me traiu o sonho de velas pandas
E derrubou o mastro onde desfraldei minha bandeira?
Quem, pela calada da noite, se fez ladrão e algoz
E, sangrou meu sangue resoluto de ir além,
Segando meus passos e submetendo meus poemas?
Eremita de mim, em mim me sinto nauta e profeta,
Peregrino que o infinito chama e o amanhã requer,
Não me travam ladainhas de artimanha abjecta!
Eu sou da lusa gente que, ousa porfiar e a aridez vencer,
Para chegar onde só chega aquele que define a própria meta,
Onde acontece o sonho de quem se faz acontecer.
Pseudónimo do Autor: PC – Paulo César
Doença
“O papado doentil, febril e insosso.
Nem sei se insosso.
Domina tudo.
Mas eu não me deixo dominar por ele.
Controla uma igreja que, para os de estreita visão,
Estreita largura pontífice.
Mas que na sociedade,
Sustenta uma nomenclatura exacerbada.
A nomenclatura doentia do capitalismo.
Do exorcismo,
DO CATOLICISMO.
Há quem diga que ele é o cristo em terra.
Mas que horror.
Ele, de nada é, nosso salvador.”
--
Bruno Jemnecki dos Santos
PORTUGAL IMIGRANTE
As paredes dos prédios onde estamos
São pintados com tinta aditivada
Com o suor e a dor dos africanos,
Brasileiros e da Europa libertada.
São Guiguis, Santolas, Nhouces, Mangolés,
Moçás, Brasucas, antes eram todos portugueses,
Os Tugas do Serviço de Fronteiras: Quem És?
Estrangeiro todas as vezes!
Depois, concentras-te no Rossio,
Teatro D. Maria, Praça da Figueira,
Tua mulher habitua-se ao frio
E já vende peixe na Praça da Ribeira.
Tens condomínio fechado na Jamaica,
Pedreira dos Húngaros, Cova da Moura,
Não tens direito a formação ou baixa,
Se adoeces, nenhum hospital te cura.
Queres casa, mas o Banco não empresta,
Falta contrato de trabalho assinado,
O patrão explora-te enquanto lhe interessa,
Depois sem subsídio, estás desempregado.
Teus filhos, embora, naturais
De Portugal, mas isso não chega,
Para que legalizem os seus Pais,
Só te resta então…mais tristeza.
José Manuel da Cruz Vaz Jacinto
“Quando perdemos alguém que nos ensinou a viver”
A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios
Na vida temos de tudo
Desde as pessoas que adoramos até as que não gostamos
Na vida morrem uns e nascem outros.
Perdemos os que mais gostamos
O mais injusto da vida é como ela termina….
Cada dia em que me levanto penso que é mais um dia sem a
presença de alguém muito especial.
Esse alguém que me fazia sorrir , que me ajudou crescer que
me ensinou a saber ser feliz , fez-me ver o mundo de uma forma diferente …
Mas que agora esse alguém olha por mim ...
Num dia de sol brilhante acordei
e o sol escondeu-se , nesse dia para mim era como
o mundo termina-se naquele momento …
Fechei as cortinas e não queria acreditar no que
me tinha acontecido , nesse dia queria querer
que tinha tido um pesadelo…
Naquele momento e ainda hoje tenho a certeza
que a vida é mesmo muito injusta …
autora: Carolina Madeira
ANO 2012
Iniciamos no mês primeiro
Do novo ano que entrou
Que começa agora em Janeiro
Igual ao mês de Dezembro
Do ano que acabou
Com a certeza do incerto
Sendo o incerto uma certeza
De que cada vez estamos mais perto
Da certeza da nossa pobreza
As negras nuvens do ano que passou
Escureceram as vãs esperanças dos que acreditaram
Nas falsas promessas daqueles que se passearam
Por entre hortas, pomares, feiras e lotas
Criticaram o que outros fizeram
E fizeram de todo um povo um bando de idiotas
Não admira, falaram a língua dos pobres, ricos e agiotas
Estes, são os verdadeiros poliglotas
Mas creio profundamente
No povo da minha nação
Que iremos fazer frente
A quem nos dá tanta humilhação
E gritamos a uma só voz
Que não toleramos quem de nós abusa
Porque temos dentro de nós
UMA GRANDE ALMA LUSA
António D. Lima
Como tu
Não sou escritora, nem tão pouco sou poetiza
escrevo o que me vai na alma esperta
Os momentos que vivi, que vivo
escrevo ilusões, sufoco coracões,
escrevo sangrentos e esquecidos
escrevo sequiosos e vadios
que perdidos vagueiam, sofridos,
pela lei da guerra infindável
pelas lágrimas dos que leem...
pelos sorrisos dos que já não veem,
Sou simples...como tu...
com uma esperança afável,
enfim...,
Não sou escritora,...nem tão pouco poetiza
escrevo apenas as palavras que a caneta pisa...
Karlitta Ks
Desculpa
Desculpa, que palavra tão triste mas tão real,
Vou partir e deixar-te sem resposta nem pergunta,
talvez vá alimentar as tuas certezas ou conclusões,
fujo de ti sim, fujo de mim também e do mal que te faço.
Que ousadía a minha de pensar tanto no que pensas!
sei lá eu que te vai na cabeça, na minha vai muita coisa,
coisas a mais, muita sombra e neblina que me ostípa,
Entope a alma, o corpo e a mente sem freio.
Meu amor, ou oásis dele em mim,
queria tanto perceber porque sinto tudo isto,
aceitar que posso não te querer, assusta-me,
querer-te mal é angústia que alimenta a loucura.
Vou fugir de tí, escrever-te para bem da verdade
contar o que se passa expelír versos suaves
resgatar a verdade do que sinto e esperar...
desculpa, que palavra tão triste mas tão real.
Nuno Sabroso
"Se eu Mandasse"
Caminha vertiginosamente o Planeta Terra
rumo aos escombros da incompreensão
tanta gente em sofrimento lastimoso,
entre confrontos de guerra após guerra
imparáveis na discórdia e na destruição
que gera entre povos, efeitos impetuosos.
Pessoas pela força arrancadas da sua origem
inocentes padecem tristes e inconformados
tantas crianças à mercê da caridade,
os senhores das guerras assim o exigem
insensatos, incompreensíveis e desatinados
nos seus instintivos poderes de autoridade.
Porém!.. se fosse eu que mandasse
dava entendimento aos senhores do poder
florestas, mares! tudo mais despoluente,
pedia ao meu Deus veemente que ordenasse
para que no Mundo se pudesse melhor viver
com paz, felicidade e amor para toda a gente.
Artur Cardoso
Depressão ( A doença do Século XXI )
Numa perturbação depressiva
Em constante nostalgia
Busco sobre leve tentativa
Alcançar a minha genealogia.
Arrasto no pensamento
Uma mágoa padecida,
Recordando a cada momento
Toda uma dor reprimida.
Como posso não chorar
Sendo a vida tão severa,
Sentindo o coração sangrar
Enquanto a alma degenera.
Tumultua-se todo o meu ser
O que me faz enfraquecer
E tanto me entristece…
Vagueio como uma nau à deriva
Ansiando agarrar-me à vida
Mas nem sempre isso acontece.
Alma Lusitana
O que se faz
Sem saber se é o bem
É o mesmo que se colhe
Sem saber de onde vem
Para cada acção
Há uma reacção
Acções opostas
Reacções sem respostas
Antítese sinónimo de vida?
Será verdade a evolução?
Consegues sentir a estagnação?
Bernardo Oliveira
Viver para Ser
Incompletos somos,
Pois somos o que temos.
Animal de mudanças,
Pois queremos sempre o que não temos.
Orgulha-te de mudar,
Porque mudar é viver.
Deixa de morrer e completa-te!
Encontra o teu ser!
Não é preciso o perceberes,
Ele já te entendeu.
Não foi preciso ter-te,
Ele já sabe que é teu.
Não era preciso tanto,
Afinal a procura é passatempo.
O teu ser era a tua sombra,
Leve como o vento.
Mais que traçado,
Era o teu fado.
Ele não te disse!
O teu ser mentiu-te, quis-te acabado!
Espera, não o culpes!
É verdade, contigo ele acabou.
Mas agradece-lhe.
Porque foi ele que vos completou.
(Júlio Magalhães 25/02/2012)
ECO
Eco...
inaudível
aos gritos de quem geme.
Indiferente
em ironias cambiantes,
perde-se em imagens voláteis...
A quem importa o grito
se o eco o despreza ?
O crepúsculo envolve-o amargamente
e o eco acéfalo,
obstinadamente indiferente,
alcança o cume,
cego,surdo, sem limites
onde espera alcançar a redenção...
Em exaustão,
o grito, entorpece a viagem peregrina
em canticos de erosão.
Almas em rouquidão
sufocam com o fruto do silêncio.
Lita Lisboa.
Justiça injusta
Nesta segurança escondida
pelas leis de tanto desconforto,
a sociedade fica perdida
e o mundo parece mais torto.
A impunidade se remenda
a injustiça é muito feroz,
e o crime não mais tem emenda
vendo o viver tornar-se atroz.
Julguem então todos os culpados,
que paguem pelos seus negros erros
de forma justa e verdadeira.
Defendam assim os maltratados,
não façam apressar seus enterros
desta maneira assaz ligeira.
António MR Martins
Ainda ontem era Abril!
Ainda ontem era Abril… ainda ontem a revolução trouxe a mudança…
E hoje? Hoje vives de rotinas feitas por obrigação e não por convicção,
Arrastas-te no passar dos dias sempre iguais, sempre deprimentes,
Ouves as mesmas vozes, os mesmos gritos, a mesma desconsideração,
Finges não ouvir as ofensas que veladas ou descaradas te dirigem,
Finges não ver os olhares de soslaio cheios de má vontade e desprezo,
Finges não perceber quando te tratam como um pano de chão usado,
Finges não sofrer por dentro com as investidas que te magoam por fora…
Ainda ontem era Abril… hoje os cravos estão murchos, secos e descoloridos…
Hoje revoltaste contra as amarras da mansidão com que te agrilhoaram,
Hoje revoltaste contra os que aos poucos destruíram o teu futuro,
Hoje revoltaste contra os que empenharam o futuro dos teus filhos,
Hoje revoltaste com os que te mentiram e descaradamente te saquearam,
Hoje revoltaste com a esperança de que ouçam o teu grito de revolta…
Ainda ontem era Abril… hoje os cravos estão espezinhados no chão…
Chão que um dia foi seara loura e farta que deu fruto e se fez pão,
Chão que um dia foi árvore que deu fruto e campo que deu alimento,
Chão que um dia deu novos mundos ao mundo por descobrir,
Chão que um dia abraçou o ganha-pão que o mar depositou a seus pés,
Chão que um dia foi de luta, de sangue, de convicção, de liberdade,
Chão que hoje é apenas sombra do que foi um dia um país chamado Portugal…
Helena
Os Renegados
Cortaram-me os pulsos
Cerraram-me os dentes
Embargaram-me a voz
Mutilaram-me os membros
Castraram-me o sexo
Roubaram-me a cidadania
Os direitos, o prazer de viver
Nunca me foram sequer cobrados deveres...
Joguei a licenciatura pela janela fora
Nunca me serviu rigorosamente para nada
Sobrevivi à margem da sociedade
Engrossei as listas da precaridade
Hoje, sou velho para uma oportunidade
Um homem que arrasta a sua existência
Condenado à apatia dos alienados
Inadaptado, desenquadrado
Nem estatuto de desempregado tenho
Afinal, quem é que eu sou?
Pouco mais que um indigente
Profissão: Pela Pátria, renegado!
Maria Fernanda Reis Esteves
Setúbal
Portugal